Sargento atingido por disparo involuntário de arma será indenizado
Um sargento da Polícia Militar do Distrito Federal será indenizado pelo Distrito Federal e pela empresa Forjas Taurus S.A., por danos materiais, morais e estéticos, após a arma que ele usava em serviço ter disparado sozinha e atingido a sua perna. A decisão é da juíza substituta da 3ª Vara da Fazenda Pública do DF.
Consta nos autos em maio de 2015, enquanto se deslocava até a passarela de acesso à estação de metrô QR 208 de Samambaia, o sargento, ao descer da vitura, colocou sua arma no coldre, momento em que ela disparou sozinha duas vezes, vindo a atingir sua perna. A vítima foi então encaminhado ao Hospital Regional de Samambaia e posteriormente transferido para a Unidade de Cirurgia Vascular do Hospital de Base, onde permaneceu internado por alguns dias.
O sargento então ingressou na Justiça contra o Distrito Federal e a fabricante da arma requerendo a reparação dos danos físicos e emocionais sofridos, asseverando que até os dias atuais precisa de tratamento médico e fisioterápico para restabelecer os movimentos do tornozelo direito.
Em sua defesa, o DF declarou que não tem responsabilidade pelo ocorrido, uma vez que o infortúnio pode ter decorrido da má utilização da arma pelo autor, o que, por sua vez, caracterizaria culpa exclusiva da vítima. Além disso, o réu afirma que inexistem provas dos danos materiais alegados, tão pouco do dano estético. Refuta, ainda, o pedido de dano moral.
A fabricante da arma, Forjas Taurus S.A. também alegou que os fatos decorreram de culpa exclusiva do autor e que não houve falta de segurança da pistola, pois todas as armas são testadas, sendo seguras e confiáveis. De acordo com a empresa, os alegados disparos acidentais ocorrem por condutas humanas.
O pedido indenizatório foi julgado procedente, destacando a magistrada que a hipótese dos autos é de responsabilidade estatal, “visto que os danos relatados na exordial supostamente decorreram de ato administrativo do Distrito Federal, consistente em aquisição de arma defeituosa e disposição desta para uso em serviço pelo autor, a qual disparou de forma acidental e involuntária atingindo a perna direita do autor.”
Além disso, acrescentou: “De igual modo, incontroversa a responsabilidade solidária do segundo requerido, por ser o fabricante da arma objeto da demanda”.
Na sentença, a magistrada ressaltou, também, dois pareceres técnicos, realizados pela PMDF e juntados aos autos, que concluíram que a arma causadora do acidente encontra-se sem condições de uso para o serviço policial militar e/ou instrução e que o defeito apresentado na arma teria como consequência o disparo acidental.
A julgadora lembrou, inclusive, que era de conhecimento geral as falhas de segurança existentes na arma utilizada pelo autor no momento do acidente, conforme notícias veiculas pelos órgãos de imprensa da época. “De fato, em consulta ao sítio eletrônico de pesquisas, constatou-se ainda que, foi determinado em julho do corrente ano o recolhimento das armas de modelo do autor e outros modelos pela PMDF por apresentarem graves falhas e serem inadequadas para uso”, reforçou.
Segundo a juíza, ainda “foi determinada a realização de revisão nas armas de igual modelo à do autor, para troca da mola da trava do percussor, conforme ofício da Polícia Militar do DF. E, posteriormente, conforme despacho proferido em sede de processo administrativo foi constatado vício oculto após análise de 172 armas, inclusive a de modelo igual à do autor (PT24/7PRODS), consistente, dentre outros, em disparo sem acionamento do gatilho, o que ensejou a declaração de inidoneidade do segundo requerido para contratar junto à Administração”.
Dessa forma, concluiu a magistrada, não prospera as alegações dos réus de culpa exclusiva do autor por uso indevido da arma. Acrescentou que, à época dos fatos, o autor era policial militar há mais de 20 anos, visto que ingressou na carreira em 1992, não tendo em sua ficha de assentamentos qualquer outro caso de disparo acidental ou uso indevido de arma de fogo. Ao contrário, consta de sua ficha funcional diversos elogios pelos serviços prestados no decorrer de sua carreira. “Assim, não é crível que após tantos anos de serviço, tenha utilizado indevidamente sua arma de fogo”, considerou.
Sendo assim, o DF e a Forjas Taurus S.A. foram condenados, solidariamente, ao pagamento de R$ 6.542,67, a título de danos materiais, referentes ao que foi gasto com medicamentos pelo autor, além de R$ 100 mil, a título da danos morais, e R$ 100 mil, a título de danos estéticos.
A sentença foi proferida no julgamento do processo nº 0019214-92.2016.8.07.0018 (PJE).
Fonte: TJDFT
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